segunda-feira, 3 de junho de 2013

Conversa poética...




Conversa com Vinicius

Somos rumos de incontáveis despedidas,
Feitos para o adeus e para a lembrança.
Fomos feitos no vazio de inesperadas partidas,
Fomos o mais belo projeto da saudade.

Somos a face da espera numa tarde de inverno,
Feitos de ausências quase sempre aquecidas.
Fomos feitos de distâncias que o tempo não conta
Fomos o mais belo choro inacabado do amor.

Se ainda longe do que mais importa estamos
Ou vemos pouco o imenso milagre do hoje
Precisamos então de menos desculpas
Para ver no choro a marca de uma imensa vida.

Pois para isso estamos feitos:
Para nascer nas duras trevas de um novo adeus.

H.S.B.


Poema de Natal (Vinicius de Moraes)

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar nosso mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.



Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.


Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.