domingo, 5 de dezembro de 2010

A turma dos “sem nossão” (Nossa! Assim mesmo!)

Os “sem nossão” (como vi escrito recentemente) estão dominando o mundo. Gente sem visão, sem empatia, sem ideal, enfim, pessoas de maturidade intelectual e afetiva comprometida. Não menosprezo sua capacidade de ação, sua perspicácia na resolução de demandas práticas ou sua operacionalidade técnica. Não se pode negar que muitos (não a maioria, eu acho) deles se destacam em seus papéis profissionais e sociais; ou ainda, possuem certa aprovação dos grupos aos quais pertencem. Tudo aparência. O fato é que os SN estão desorganizados de forma hierárquica, seus limites avançam e recuam, e o efeito de seus comportamentos é variável. Tudo depende de uma posição na escala; muitos são abertamente SN (“declaração” essa feita, na verdade, por atos), ou seja, eles não deixam dúvidas que pertencem ao grupo (eis um paradoxo: fazem questão de agir desse modo sem necessariamente saber que agem assim). E até parecem ser felizes. Outros, ao contrário, disfarçam bem (também sem se dar conta desse fato); até são vistos por uma minoria como indivíduos de visão.

Eles estão aumentando cada dia mais, e o mais curioso é que não se trata de um evento de planejamento conjunto: o poder desse grupo está na ausência de metas, em uma estranha passividade evolutiva. É um fenômeno raro, mas potente, fenômeno que agrega milhares de mentes em todo mundo. Nesse grupo, não importam as diferenças culturais, religiosas, acadêmicas; estão todos nivelados por maneiras de agir que permitem uma identificação. Repito: às vezes não é fácil. Efeito dos novos tempos? (globalização, vazio ético, falta de escuta e abertura à diferença, culto ao corpo e ao prazer, interesse exagerado por futilidades) Provável. Devo acrescentar, contudo, que os SN sempre existiram, a história nos oferece testemunho disso. O ponto mais instigante de nossos dias não é sua existência, mas sua invisível e exorbitante expansão. A consequência disso são efeitos assustadoramente observáveis nos mais variados contextos. Alguns exemplos genéricos bastam, o resto é reflexão. A lista é enorme, por isso a economia.

Mães que mal conseguem cuidar de um filho e querem ter um time de futebol.

Pessoas que dão mais valor a futilidades que aos amigos e aos amores. Geralmente, aquelas que nunca têm tempo para as coisas maravilhosas, mas sempre têm tempo para as futilidades.

Gente que não pensa no futuro; gente que só pensa no futuro e não vive o melhor do presente.

Adultos de 30, 40 ou mais que ainda se comportam como adolescentes irresponsáveis.

Gente doente que se recusa a se tratar. Mesmo podendo, mesmo tendo condições! A desculpa mais esquisita: eu não gosto de médico! Morre então infeliz!

Pessoas que preferem esquecer a dor e não aprender com elas. Pessoas que só querem esquecer, pessoas que não recordam os verdadeiros bons momentos.

Homens e mulheres que não cultivam valores.

Homens e mulheres que só cuidam da mente; homens e mulheres que só cuidam do corpo.

Gente que só pensa em ganhar dinheiro. Gente que não quer ganhar dinheiro (claro que há casos e casos).

Orantes que contemplam a Deus no Céu e não enxergam o irmão ao lado.

Pessoas que não olham para cima, para baixo e, principalmente, para o lado.

Homens e mulheres que não buscam entender.

Sabem qual é o problema? Tudo isso é visto com naturalidade. Quando nossa capacidade de estranhamento diante do “sem noção” (agora de maneira correta, por favor) for atingida, então estaremos a meio caminho da adesão. Ausência de estranhamento é forte sintoma de uma integração imperceptível ao grupo dos SN. E o que fazer? Aderir ou rejeitar? Parece que os SN estão vencendo (ou já venceram?) e o sentimento de progresso humano deixa de ser unanimidade. Seria este autor um SN em afirmar isso?

Hudson dos Santos Barros