domingo, 27 de abril de 2014

Resistir é preciso, viver é preciso


Precisamos gritar pela nossa história
berrar como crianças rebeldes, indignados sempre
pelos sonhos torturados nos podres porões da ignorância.
Resgatar nosso grito de força e dor, despertar as esperanças sofridas
na ignominiosa marcha do descaso assumido.

Precisamos ser mais do que o presente,
Reviver a história que os livros não contam,
Reconhecer nossos pais e padrastos,
nossos choros e ousadias, ser algo a mais
do que um país sem a memória dos verdadeiros heróis.


Resistir é preciso, viver é preciso.
Atingindo as novas ditaduras que a liberdade esquece,
Denunciando as antigas falácias que o poder renova.

Resistir é preciso, conhecer é preciso.
Revigorando os votos de nossa natureza-morta,
Insistindo cada vez mais no país que ainda não temos.

Sentir, compreender, gritar e agir, unidos firmes em passos firmes
no aprendizado da história que as infelizes fardas não apagaram.

 Hudson dos Santos Barros

Resistir é preciso: a história da ditadura no Brasil


A exposição Resistir é Preciso, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), do Rio de Janeiro, nos trouxe um importante registro dos principais acontecimentos relacionados aos 21 anos da ditadura no Brasil. Guiada por uma linha cronológica (dividida em duas partes) abrangendo o intervalo entre 1960 e 1985, a exposição nos presentou com um conjunto de imagens, vídeos e escritos que conduziram a um significativo mergulho em nossa memória cultural. Logo abaixo, compartilho algumas fotos da exposição, assim como um rol de alguns dos eventos históricos destacados na referida linha cronológica.





"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra os outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados." (Vladmir Herzog)


Linha do tempo - Parte 1, de 1960 a 1975: da democracia à ditadura

1959 - Instala-se o governo revolucionário em Cuba.

1960 - Inauguração de Brasília.

1961 - Muro de Berlim é erguido. Gagarin, primeiro cosmonauta a viajar no espaço, afirma:  "Terra é azul".
Criada a Universidade de Brasília (UNB) e o Centro Popular de Cultura (CPC), vinculado à UNE.

Jânio Quadros renuncia em agosto. João Goulart assume em setembro.

1962 - Argélia conquista sua independência após 8 anos de luta contra a França. Criado o 13 salário.

1963 - Martin Luther King faz o seu famoso discurso: "I have a dream". Lidera a marcha contra a discriminação nos EUA. Lançado o filme Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos. Começa a intervenção militar no Vietnã.

1964 - Lançado o filme Deus e o Diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, marco do cinema Novo. O filme Fuzis, de Ruy Guerra ganha o Urso de Prata em Berlim.

13 de março - Comício das Reformas de Base na Estação Central do Brasil.

19 de março - Marcha da Família com Deus pela Liberdade (em São Paulo): contra o governo João Goulart .

1 de abril - A maioria dos comandos militares adere ao golpe.

2 de abril - Goulart exila-se no Uruguai. Uma junta militar assume o controle do país.

09 de abril - É decretado o 1º Ato Institucional: o Congresso e a Constituição de 1946 são mantidos, mas ocorre a suspensão das imunidades parlamentares. Sai a 1ª lista de cassados.

11 de abril - general Castelo Branco é eleito presidente.

1965 - A TV Globo vai ao ar. Assassinado Malcolm X, defensor dos direitos civis dos negros americanos.

1966 - Na música: A banda, de Chico Buarque; Disparada, de Geraldo Vandré, no Festival de Música da Record.

Junho - Golpe militar na Argentina.

Revolução Cultural na China: O livro vermelho de Mao começou a circular pelo mundo em 1964 consagrando-se devido a suas máximas revolucionárias. Uma delas: "Comunismo não é amor; comunismo é um martelo com o qual se golpeia o inimigo."

"E eu não aguento a resignação. Ah, como eu devoro com fome e prazer a revolta." Clarice Lispector.

1967 - Navalha na carne, de Plínio Marcos é encenada em SP e no ano seguinte no RJ. Censurada.  Festival de Música da Record faz sucesso mais uma vez: consagração de Caetano, Gil, Chico. Alegria, alegria, de Caetano Veloso e Domingo no parque, de Gilberto Gil, lançam as bases do movimento tropicalista. Roda Viva, de Chico Buarque é também premiada nesse festival.

Che Guevara é assassinado na Bolívia.

1968 - Maio: estudantes tomam Sorbonne e enfrentam a polícia. Operários em greve ocupam as fábricas. Assassinado Martin Luther King. Lançado o disco Tropicália, principal manifesto do movimento tropicalista.

26 de junho - Passeata dos 100 mil no Rio é a maior manifestação de protesto no país desde o golpe de 1964.

Setembro - Geraldo Vandré empolga o maracanãzinho interpretando Pra não dizer que não falei de flores, no III Festival da Canção.

Jornais da época: Pasquim, Movimento, Repórter, Unidade, Tribuna Operária.




13 de dezembro de 1968 - Baixado o AI-5: suspende o habeas corpus e determina que o congresso pode ser fechado pelo presidente. Aumenta a censura aos meios de comunicação.

São aposentados compulsoriamente vários professores da USP: Florestan Fernandes, Caio Prado Jr., Octávio Ianni, FHC.

Dezembro - atentados à bomba aos teatros Gláucio Gil e Opinião no Rio.

1969 - Lamarca abandona o quartel em Quitaúna (SP) levando consigo armas e munições.O Jornal Nacional vai ao ar pela 1ª vez. Leila Diniz concede entrevista ao Pasquim.

Sequestro do embaixador americano Charles Elbrick numa operação conjunta da ALN com o MR8. Governo cede às exigências de publicar um manifesto contra a ditadura e libertar 15 presos políticos.

1970 - Brasil ganha Copa no México e o governo usa isso na campanha ufanista: Brasil, ame-o ou deixe-o.

Salvador Allende é eleito presidente no Chile.

Outubro - Dom Evaristo Arns é o novo bispo de Sao Paulo: papel relevante na resistência contra a ditadura

Censura de livros e periódicos prévia é oficializada pelo decreto 1077.

1971 - Assassinado Carlos Lamarca no sertão da Bahia.

1973 - Crise do Petróleo, Golpe de Estado no Uruguai e Golpe Militar no Chile depõe Allende.

Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra é censurado.

1974 - Geisel é eleito presidente por um colégio eleitoral composto de membros do Congresso e delegados das Assembleias Legislativas dos Estados. Em agosto promete uma abertura "lenta, gradual e segura".

1975 - Fim da censura prévia aos jornais Estado de São Paulo e Pasquim.

Guerra do Vietnã chega ao fim.

O jornalista Vladmir Herzog é assassinado no DOI-Codi em São Paulo. Culto ecumênico em sua memória na catedral da Sé torna-se um grande ato público contra a ditadura. Jornal Unidade é impresso com sua 1ª capa toda em preto em sinal de luto.

Morre o ditador Francisco Franco após 36 anos no poder.






Linha do tempo - Parte 2, de 1976 a 1985: da Ditadura à democracia

1976 - Morre o ex-presidente Juscelino em acidente automobilístico na Dutra.

1977 - Aprovada a lei do divórcio.

1978 - A canção Cálice, de Chico e Gil,  de 1973, é liberada pela censura. Apesar de você, de Chico Buarque, também é liberada.

Maio - Greves Operárias no ABC paulista. Emerge a liderança de Lula.

Outubro - Revogado o AI- 5, que continua em vigor até o final do ano.

1979 - Greve de 3 milhões de trabalhadores em todo o país.

Agosto - Lei da anistia é sancionada por Figueiredo.

1980 - Restabelecimento das eleições diretas para governador. Fim do bipartidarismo. Brizola funda o PDT, o MDB se torna PMDB, Ivete Vargas cria o PTB. Fundação do PT em SP.

1981 - Atentado fracassado da direita terrorista contra o show comemorativo do 1º de maio no Rio Centro. Um sargento morre e um capitão fica ferido.

1984 - Vários comícios ocorrem nas principais capitais. No dia 25 de abril, as Diretas não foram aprovadas. Resultado: 298 votos a favor e 65 contra e 3 abstenções. Faltaram 22 votos para se atingir os dois terços necessários que permitiriam a apreciação da emenda pelo Senado.





1985 - Tancredo é eleito presidente pelo Colégio eleitoral. Disputou com Maluf. Tancredo tinha sido 1º ministro no governo Goulart. Vice: José Sarney.

22 de abril - Sarney é empossado presidente.




Ao final da exposição, os participantes podiam expressar sua opinião sobre o que assistiram (ou sobre qualquer outro assunto relacionado) em pequenos pedaços coloridos de papel. Hoje, a democracia, apesar de suas numerosas mazelas, nos possibilita a livre expressão e nos garante uma participação mais efetiva no cenário sociopolítico. Eventos como esse no CCBB são uma ótima ferramenta de aprendizado, de capacitação para uma cidadania mais consciente e ativa. Cito aqui a indispensável frase do filósofo inglês Francis Bacon: "Saber é poder". Somos herdeiros da resistência, de um Brasil que lutou e sangrou em prol da liberdade. Nossa primeira responsabilidade como cidadãos conscientes é a busca de uma constante renovação de nossos conhecimentos. Esse é, sem dúvida, o primeiro passo para uma atuação mais efetiva em nosso país de tantas desigualdades e corrupção.