O último beijo
Ainda sinto o gosto daquele
último beijo
que nunca lhe dei.
Domados pelo terrível desencontro
nos descontentamos
com imagens de nossas
ausências.
Aquele beijo nunca aconteceu
o último toque
a celebração
do pregresso prazer
o desabafo da triste cisão
Embora a carne alheia de nossos lábios
embora a fuga cujas
pretensões desconhecemos
me resta o gosto inventado
do prazer
do seu corpo distante.
Sabe aquele
último beijo
que nunca lhe dei?
Ainda o tenho celebrado na memória
de nossas certezas
se o tempo nos puniu com acasos
nos resta mesmo assim a eternidade passada.
Em minutos de dor e ansiedade
em fluxos de incompreensões
e rebeldias
eu reconstruo um doce paraíso
ao lado seu.
Mesmo que a realidade nos puna
com o nunca dos afetos
recíprocos
eu me lanço extasiado e triste
a um abraço imaginado
em suas distantes mãos.
Nunca vou esquecer
aquele último beijo
que nunca lhe dei!
Me revirando indócil na lembrança
dos seus gestos
meu coração se agita
querendo um outro rumo.
Insensata memória esta
que não dá respostas
memória rude
que agride sem manifestar
porquês.
Sim, ainda sou aquele beijo ausente
a nossa intimidade intimidada
Por vezes razão
cem vezes moção
de um interior querendo mais
que imagens desmedidas de sua distância.