domingo, 20 de novembro de 2011

O último beijo


Ainda sinto o gosto daquele

último beijo

que nunca lhe dei.

Domados pelo terrível desencontro

nos descontentamos

com imagens de nossas

ausências.

Aquele beijo nunca aconteceu

o último toque

a celebração

do pregresso prazer

o desabafo da triste cisão

Embora a carne alheia de nossos lábios

embora a fuga cujas

pretensões desconhecemos

me resta o gosto inventado

do prazer

do seu corpo distante.


Sabe aquele

último beijo

que nunca lhe dei?

Ainda o tenho celebrado na memória

de nossas certezas

se o tempo nos puniu com acasos

nos resta mesmo assim a eternidade passada.

Em minutos de dor e ansiedade

em fluxos de incompreensões

e rebeldias

eu reconstruo um doce paraíso

ao lado seu.

Mesmo que a realidade nos puna

com o nunca dos afetos

recíprocos

eu me lanço extasiado e triste

a um abraço imaginado

em suas distantes mãos.


Nunca vou esquecer

aquele último beijo

que nunca lhe dei!

Me revirando indócil na lembrança

dos seus gestos

meu coração se agita

querendo um outro rumo.

Insensata memória esta

que não dá respostas

memória rude

que agride sem manifestar

porquês.

Sim, ainda sou aquele beijo ausente

a nossa intimidade intimidada

Por vezes razão

cem vezes moção

de um interior querendo mais

que imagens desmedidas de sua distância.


Hsbrush

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