segunda-feira, 3 de dezembro de 2012




Tempo gasto

Me entrego a tempos tão estranhos
quanto meu próprio “eu”.
Tão doente pra ficar feliz, tão remédio pra encobrir a cor
de um uma história longa e branca.

Meu tempo é a dispersão,
Felicidade vazia cheia de gente!
Por isso estou copo, estou rede,
sede ainda voraz pelo nada a mais.
Momentos de plástico, créditos esquecidos,
Débitos tão imperfeitos quanto o próprio pensamento.


Sou tempo gasto e preço perdido,
Tão estranho quanto um dia sem mim.
Meu passado indigente, meu presente
emprestado ao indiferente vento.

E para tantos passos sem pegadas assim,
Me entrego ao meu destino
de um nome a mais.
De felicidade tão estranha
quanto o próprio
esquecimento.

Huddie
Reinvenção (Cecília Meireles)

A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... - mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...
Só - no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só - na treva,
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.