quarta-feira, 1 de outubro de 2014



Ponte


A ponte é precipício e partida
Horizonte feito de gente e pó
Enquanto caminho sou destino em movimento
Braços cansados à procura de um adeus.
Na ponte, sou aceno e saudade,
Pernas que desejam o limiar
Extensa via de repetidas passadas...


De uma ponte, de uma ponte a mais.





A ponte é distância e chegada
Elo finito de infinitos passados
Sou destino quando caminho ou paro;
Sou razão estaiada na emoção.
Pés e pegadas e pedaços e pedras
Passos que não podem voltar jamais
Enquanto sigo o ausente espaço...

De uma ponte, de uma ponte a mais.




“De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos, vagarosas saudades,
Silenciosas lembranças
Entre mágoas sombrias, momentâneos lampejos
Vagas felicidades,
Inatuais esperanças.”

(Cecília Meireles)


Pressa


Não consigo esquecer sua pressa de amar
Esse olhar de pedinte tão simples e abusado
Somos dois adolescentes em vestes de adultos
Ansiosos por romper o incontido desejo
Certamente não posso esquecer o seu rosto
E sua geniosa pressa de amar.

Não consigo entender as solitárias horas
Encarar o vazio que aplaude o tédio
Ou vagar na escuridão de sua ausência assim
Dois corpos temerosos pelo nunca mais
Simplesmente almas em busca
Da necessária e ocupada nudez.

Não posso abandonar o ponteiro
De nossas imprescindíveis horas
Ou deixar o abraço de seu vivo perfume
Somos pele, braços, pernas no limite do tempo
Intensamente feitos para resistir ao inconveniente
E inaceitável aceno de adeus.


Paz


Quando todos os pensamentos dormirem
Ou a saudade esquecer
o cobertor que nos aquece
Mesmo quando o tenebroso pesadelo
da incerteza nos atacar
Você será meu sonho bom,
Meu pedacinho de paz
No duro colchão de nossas vidas enfermas.




Partir


Tenho que deixar você partir
E sentir a falta que move outros
Mundos raros e intocáveis.

Deixar você partir e sentir
O terrível corte da tristeza afim
Partir e me deixar sentido

No vão de minhas dores invisíveis
E cruéis.



Tenho que deixar você partir?
E não dizer o quanto sua falta
Me falta e me torna infeliz?

 
Não sentir mais sua saudade,
A temível tristeza do pior dos fins
Não viver mais nossa passagem...

A dor mais visível no vão
Das falsas aparências.



Não à partida, tampouco à chegada
Preciso a passagem, sentidos dos rumos
em nossa paixão apressada e juvenil
Só desejo o tempo e nossas horas
Tão pouco vividas no vão das inúteis soberbas.