A felicidade precisa ser nomeada. Muitos (ou talvez todos) esqueceram essa pronúncia doce, marcante e oportuna. Não transformar em sons esse conceito tão poderoso não significa apenas um desleixo lingüístico: trata-se de um sintoma que evidencia um desleixo consigo próprio. Fala-se de dinheiro, de contas, de trabalho, de divertimento, mas quase nunca a felicidade é posta
Se compararmos o que fazíamos há três anos com que fazemos hoje, o que se transformou? O que somos hoje? Temos história para contar? E as desculpas são muitas: a economia, a falta de sorte, o fulano, o ciclano, etc. Obviamente que há situações e situações: não estou falando das intempéries desastrosas dos acidentes, das doenças ou de outras perdas. Esse é outro lado que deve ser considerado com muito cuidado. O ponto ao qual me refiro é: há muitas pessoas que não percebem a si próprias, não veem que podem muitas coisas agora. Não dão valor à saúde, à paz, ao que podem fazer para tornar a vida (mais) significativa. Fico transtornado quando dizem: “Estou doido que o ano acabe” ou “tomara que dezembro chegue logo”. Para quê? Para desejar que dezembro chegue novamente? Aí chego a um ponto da vida e digo: “O que fiz de interessante?”, “Ah se eu pudesse ter feito isso ou aquilo”. Seguimos sem saber para onde, simplesmente sobrevivemos, inevitavelmente vamos morrer. “Tomara que eu morra logo”. Quando desejamos todos os anos que o ano acabe, dizemos implicitamente isso. Nosso sintoma: engrandecemos o prazer e esquecemos a vida. Esquecemos que a renúncia temporária pode ser felicidade, que o aparente fracasso pode ser felicidade, que a infelicidade sentida é um adiamento, por vezes, necessário. Algo precisa mudar.
E o que é ser feliz? Somente aqueles que tentam enxergar a vida vão obter tais respostas. Não sou partidário de um relativismo total, tal como, “cada um sabe o que é melhor para si”. É claro que existem nuanças, isto é, felicidades. Entretanto, não se deve desprezar pontos comuns (Quais são? É só pensar um pouco), elementos que tornam humanos mais humanos. Também não sou partidário daqueles que curtem o carpe diem total (carpe diem = colha o dia), isto é, que vivem sem pensar nas consequências de seus atos, que acham que nada pode acontecer com eles... Considero a vida um projeto que permite se adequar à força do imprevisível: nem sempre aquilo que calculei ser bom será efetivamente bom. O difícil é colocar isso
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