terça-feira, 14 de agosto de 2012


O que nos diz o amor

O que nos diz o amor
Apenas meu silêncio pode expressar.
Nem bocas, nem teclas, tampouco o verso.
Na palavra, o amor é sempre tentativa,
No gesto, ele é bem pouco de mim.
Ainda que eu me renda ou suplique
Apenas saberei muitos menos que a metade,
Mesmo que todo o alfabeto se una e grite
seguirei em passos tortos na visão de um improviso.

O que nos diz o amor
habita no rumo da saudade ou na perda consentida,
reside na esquina do enigma com o impossível,
vive e reina no paraíso das infernais distâncias.
Bem perto da aprovação e da contenda,
Próximo do beijo e da agressão,
lugar que abrange o mais e o menos,
a audácia e a fraqueza, o fraterno e a vileza.
Lugar do sonho, do desejo, da morte,
da vida entregue ao vulto de um futuro incerto.



O que nos diz o amor
está no tempo que perdeu o relógio.
Longe das regras que só sabem mentir,
Distante do veto e do orgulho.
Mais forte que os “nós”, intenso como o invisível!
O que nos diz ainda é pouco,
atos pueris ou grandes decisões
sejam  
Força tão essencial quanto a escuridão e a luz!
O amor não diz apenas:
convoca a algo mais do que a própria vida,
do que a vida própria.

H.S.B.

O que o tempo diz
A Eduardo Galeano

Se somos os pés e a boca do tempo,
Se realmente caminhamos com os nossos pés,
Que o tempo seja então movimento constante,
Que o nosso tempo então vislumbre travessias ignoradas.
A boca em palavras doces ou rudes, as palavras em bocas doces ou rudes,
os passos sempre atentos ao descobrir.

Na travessia que o vento rege, são os pés que vigiam o novo;
Cansados ou fortes, sujos ou limpos, grande é sempre a descoberta!
Pés que testemunham a indigência humana,
Passos que contemplam a fluência do múltiplo.
São os movimentos do tempo que não se acovardam diante da viagem-vida.    

Bocas em inquietações necessárias para dizer o que o vento não pode:
Dizem o humano e seu vasto domínio de narrativas infinitas:
Gritam onde há incoerências ou volúpias, gritam por nada ou por tudo:
Confessam, até mesmo no silêncio, que não se pode silenciar a vida em movimento!

Travessia do tudo e do nada, jornada do tempo invisível e cruel.
Pés e bocas devem contar mais do que a viagem, mais do que uma viagem!
Pés de bocas e bocas de pés inquietos e prontos perante o que o tempo diz.

HSBRUSH