Onde nos guardamos? Onde se encontram aqueles desejos de vida salutares que renegamos em nome de responsabilidades inventadas? Desaprendemos a nos importar com o passado, o presente e o futuro. O presente é fluxo; o passado, somente fatos embaralhados; o futuro, a repetição desordenada da sobrevivência animal. Nesse trânsito de vida sem recordações, despejamos nosso melhor no escoadouro da apatia, nos distanciamos do outro e de nós mesmos, e cada palavra, gesto ou aproximação se consuma na distração egoísta. Esquecimento, indiferença, distância, distração, quase sinônimos que traduzem ausências despercebidas e nos lançam para a punição do tempo desperdiçado. O tempo pune, a vida pune. Ao esquecer, somos esquecidos; ao afastar, somos afastados. Não aprendemos, não preservamos, não recordamos... sobrevivemos! Apenas. Pouco nos diz respeito, quase nada nos interessa: nossa visão de mundo e nossas ações se restringem a um cotidiano sem grandes saltos de qualidade espiritual, intelectual ou afetiva. Paira, assim, uma silenciosa agressão ao nosso melhor guiada pelo contentamento do banal.
terça-feira, 7 de junho de 2011
Onde nos guardamos?
Simples sinônimo
Há tempos, tentei encontrar um sinônimo
para o vocábulo vida.
Consultei dicionários, livros, enciclopédias,
Ainda infante,
viajei por milhões de horas em pensamentos sérios.
Consultei meus sonhos e amores,
perguntei a Deus, aos sábios e ao google.
Por anos, a curiosidade virou ritmo, tornou-se apenas obrigação.
Por décadas o vocábulo vida se mesclou ao extrato bancário
e se perdeu em números sem real valor.
Virei adulto de cara séria e de mente cheia: adulto sem tanta bisbilhotice.
Até que o texto me predicou sujeito, até que a vida
em suas palavras me assinalou o sinônimo mais que ideal.
Em seus parágrafos, fui enredado sem ponto nem vírgula,
sem tantas regras, sem tantas definições.
Até que seu texto me predicou sujeito, até que sua vida
me cunhou palavra nova, não somente em fatos, não somente em sonhos.
Eis aqui então um simples sinônimo: viva. Viva.
Hudson, Hudson.
Tempo – “O coração disparado”
A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo.
Quero a fome.
Adélia Prado
Sonhos_ sufixados
Cruelmente
Os sonhos que me navegaram
Aportam em terra tola
Cresci inundado por imagens
De um certo sempre ausente
Somente
desejava o que só um eu percebia
impelido sempre, esperançoso sempre
até a vigência vil do sorriso descaso
Mente
Quantos possíveis esta mente sofreu e sofre
Ela mente ao dizer minha verdade
Ela diz ao sofrer minha mentira
Premente
Eu fujo das grandes esperanças
corro desesperado em direção ao real
desesperadamente eu nego o diabólico sonho
Temente
Deserdo a imagem que semeia a dor
Abandono o desejo nocivo ao corpo
Em terra tola escolho a estrada capaz
aquela estrada asfaltada com lágrimas – hoje adultas –
de sonhos dissolvidos no salgado mar de sonhos
Hudson
Sonhos_ sufixados
Cruelmente
Os sonhos que me navegaram
Aportam em terra tola
Cresci inundado por imagens
De um certo sempre ausente
Somente
desejava o que só um eu percebia
impelido sempre, esperançoso sempre
até a vigência vil do sorriso descaso
Mente
Quantos possíveis esta mente sofreu e sofre
Ela mente ao dizer minha verdade
Ela diz ao sofrer minha mentira
Premente
Eu fujo das grandes esperanças
corro desesperado em direção ao real
desesperadamente eu nego o diabólico sonho
Temente
Deserdo a imagem que semeia a dor
Abandono o desejo nocivo ao corpo
Em terra tola escolho a estrada capaz
aquela estrada asfaltada com lágrimas – hoje adultas –
de sonhos dissolvidos no salgado mar de sonhos
Hudson
Versos vigilantes
Meus versos dormem
Para serem os olhos que despertam
Dormem para serem os olhos
que despertam a noite dos teus olhos.
Como ventos de inverno eles agridem
Com ventos iniludíveis eles agridem e reformam
Meus versos são vigias
São vigilantes da tua emoção esgotada.
Quietos, atentos, mordazes, salubres,
Os versos guardam
Aguardam o “sim” da tua tímida intimidade
Guardam o melhor do teu caos interior
do meu.
Os versos dormem, porém sonham
porém sonham com o algo mais ainda velado
porém crescem em vidas despercebidamente desmedidas
Os versos sonham
Para um dia (uma noite) serem tua realidade inaugurada.
Hudson S. B.
Versos vigilantes
Meus versos dormem
Para serem os olhos que despertam
Dormem para serem os olhos
que despertam a noite dos teus olhos.
Como ventos de inverno eles agridem
Com ventos iniludíveis eles agridem e reformam
Meus versos são vigias
São vigilantes da tua emoção esgotada.
Quietos, atentos, mordazes, salubres,
Os versos guardam
Aguardam o “sim” da tua tímida intimidade
Guardam o melhor ao do teu caos interior,
do meu.
Os versos dormem, porém sonham
porém sonham com o algo mais ainda velado
porém crescem em vidas despercebidamente desmedidas
Os versos sonham
para um dia (uma noite) serem tua realidade inaugurada.
Hudson S. B.
Sonho depois
Celebro meu futuro certo, meu depois de vida certa!
Exalto minha velhice grata, o depois distante cheio de grandezas!
Depois amigo, depois feliz, depois intenso!
Sonho depois, que o agora agora é mito:
Sim! Com cem desculpas engano a vida: “depois, depois, depois”.
Meu prazer é o amanhã, sou quase sempre meu depois.
Sonho depois, pois ganhei muito real para ter presente novo!
Sigo operário valendo pouco para valer depois.
Depois eu amo, entendo, perdoo, escuto.
Louvo a meta sempre meta: o hoje nunca é hoje: “depois, depois, depois”.
Vivo a lógica do meu tempo bruto, espero ausente e ponto.
Estou sempre alheio, sou meu depois de agora a-risco!
Depois tão certo caso não venha?
Terei um ontem mentiroso que direi saudoso!
Hsbrush
Manual dos amantes amados amando
Hoje,
vamos reinventar nosso nexo,
longe dos gozos passados, distantes da obscena razão
Com as dúvidas e os medos, entraremos em nossos mundos afins
para, assim, sentirmos o sagrado cheiro da intimidade
erro, acerto, acerto, erro, acerto, acerto, acerto, erro, acerto...
no vão dos possíveis, construiremos mundos em mundos:
o movimento então vira gente que gosta de gente.
de doce ócio, construiremos nossas ruidosas normas
com linhas e espaços explícitos,
cheios de adjetivos próprios e impróprios,
ausentes de indiferença nas contínuas semânticas dos corpos
Nestes minuciosos minutos
iremos aprofundar as redundâncias,
para depois apagar nossas próprias regras
será, pois, rasgado nosso apegado manual,
onde vislumbramos os sentidos que nos acomodam
de forma intensa e dolorosa.
Mais uma vez, mais outra, ainda outra...
até que a memória de nossas páginas seja verdadeira poesia...
H ?